quarta-feira, 23 de maio de 2012

O primeiro dia a gente nunca esquece



Lembro-me como se fosse hoje, chorava como um bebê que acabara de nascer e que só desejava ficar ao lado de sua mãe. Era o primeiro dia de aula, já havia completado seis anos, portanto, já podia ingressar no Pré-escolar, afinal de contas, era isso que minha mãe estava tentando fazer comigo, mas eu não queria, na verdade, não estava preparada para aquele momento, onde o medo da separação era mais forte que minhas forças ou da imensa vontade de aprender a ler.  A sensação era de verdadeiro abandono parecia que nunca mais fosse vê-la.
Mas  lá ia eu, mesmo sem vontade,  com um uniforme azulado  e um tênis branco, caminhando com minha mochila cor de rosa e minha lancheira linda, que havia ganhado do meu padrinho. Minha mãe dizia que estávamos indo para um lugar cheio de amiguinhos e com uma tia maravilhosa que me ensinaria  um monte de coisas principalmente a ler, algo que eu queria muito aprender . Só assim, para esquecer o medo ... o medo que diziam ser normal. Como podia ser normal aquele momento de tanta aflição que me separaria dos meus pais durante boa parte do tempo? Eu não conseguia entender ...excedia qualquer racionalidade.
Pronto, o caminho percorrido até a escola já havia cessado, acabara de chegar na escola, minha mãe desejou boa sorte e me largou lá, como um cãozinho abandonado, era assim que me sentia. A tia que me ensinaria tantas coisas como havia dito minha mãe, na verdade se chamava professora  Amélia, ela era fantástica, mas não era minha mãe. Meus colegas eram  todos da minha idade e conversavam comigo, mas não eram minhas irmãs. Não tinha jeito era só lembrar da minha família, que abria o bocão. Era incontrolável, era saudade. E esse era o cenário de todos os dias pelo menos até minha mãe voltar para me buscar.
Com o tempo fui fazendo amizades e a minha professora foi me ensinando muitas coisas, e fui percebendo que minha mãe estava falando a verdade, que realmente tinham pessoas que me ajudavam com conhecimento e companheirismo.  Sentia saudades da minha casa é claro, mas não chorava mais e nem sentia mais aquela aflição que me deixava com tanto medo.
Agora, minha mãe me dizia que eu havia me acostumado com o ambiente , é, e o ambiente era minha sala de aula, que a cada dia ficava mais bonita com as decorações que fazíamos para as datas festivas que iam perpassando.   Minha mãe dizia também, que aquela não seria a primeira e nem a última vez que sentiria saudades de casa, que na vida, eu passaria por muitos momentos semelhantes, afinal ,é normal...
 Prossigamos em minha caminhada, acostumada a essa hora? Será?eu estava mesmo  acostumada com toda situação? O primeiro dia de aula já não fazia mais parte de meus pensamentos? Não significava mais pesadelos?  Como momentos de tanta aflição tinham sido substituídos por momentos de alegrias ? talvez a resposta seja realmente o que minha mãe sempre dizia...
 Bolas vermelhas, luzes a cintilar,  PRESENTES... isso mesmo afinal é o que todas as crianças esperavam ganhar, pois o espírito que pairava sobre nossas aulas era o natalino. Muito bem, como o natal é no final do ano... entendeu? FINAL...  tudo passara tão rápido que eu não havia entendido que já estava no final...é no final do pré-escolar, no final de minhas aulas. Isso seria bom? E agora? Festinha de fim de ano? Despedida? Ai meu Deus... olha o sentimento de saudade chegando de novo... e sabe o que me diziam quando eu perguntava o porquê de ter que ser separada dos meus colegas e da minha querida professora Amélia? É normal a vida é assim... E lá estava minha mãe dizendo:
- Você vai se acostumar...minha filha
É, percebi que a vida é assim... como ela sempre me contou.. ela tinha razão agora estou terminando mais uma etapa da vida e compreendi  o porquê que o primeiro dia a gente nunca esquece...